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  • Foto do escritorRudy Rafael

O transtorno de personalidade esquizotípico e a mediunidade

Atualizado: 1 de fev.

A mediunidade – considerando assim para os que nela acreditam – é a capacidade, dita natural a todo ser humano pela doutrina espírita, de uma pessoa conseguir ser um canal de comunicação entre os desencarnados (os espíritos dos que não habitam este mundo de forma encarnada, os “mortos”) e os encarnados (os “vivos”, aqueles que habitam este mundo). Aqueles que desenvolvem e exercem a mediunidade são os “médiuns”.

Primeiramente, para que se compreenda devidamente sobre o tema mediunidade, é necessário esclarecer que a própria origem da sociedade humana, a sua capacidade de começar a se organizar e o surgimento da própria escrita remontam aos tempos tribais, onde o ser humano passou a buscar nas divindades (“espíritos”) a explicação para os fenômenos naturais que vivenciava, como chuvas, trovões e trocas das estações.

A partir desse momento uma psique humana começou a ser formada através da mitologia. Seguindo-se com os sumérios, os antigos egípcios, os gregos, os romanos e a Igreja Católica na Europa Medieval – olhando-se para o Ocidente cultural neste caso -, se percebe que sempre a religião exerceu papel não apenas importante ou até mesmo essencial na história humana, mas se confunde com a própria história humana.

Países foram fundados pela religião, fronteiras foram estabelecidas pela religião. A religião levou o homem de um lado para o outro, fazendo com que a vida continuasse “girando” na Terra “que gira”. Se torna importante esclarecer que a religião – e aí, compreenda-se “espiritualidade – exerceu, exerce e continuará exercendo papel importante na vida humana, seja a espiritualidade religiosa ou não. As igrejas estão acabando, mas a espiritualidade, não.

Em termos de psicanálise, poder-se-ia compreender que a religião surgiu, através da mitologia, como forma de solução à angústia humana em razão do desconhecido além vida, sendo (a religião) a forma como se evitaria a dor da ansiedade do desconhecimento do além matéria e de uma forma ou de outra, não cabe ao psicanalista entrar no mérito dessa questão (se a religião está correta ou não), apenas compreendê-la.

A relação – ou intenção de relação - do ser humano com o além vida sempre existiu. Quem somos nós e para onde vamos após deixarmos este mundo? Se partirmos do ponto que de uma forma ou de outra a vida continua, não seria então possível entrar em contato com aqueles que já deixaram este mundo, considerando que a vida continua? Aí entra o papel dos médiuns, que, através da mediunidade, poderiam, no caso, entrar em contato com a consciência (espíritos) daqueles que já não habitam mais este mundo.

Partindo do ponto que esta comunicação é possível (entre vivos e mortos), ela poderia ocorrer de diversas formas, como utilizando-se dos próprios sentidos físicos para ver e/ou ouvir os espíritos dos mortos. Essa “pretensa” habilidade de comunicação com os mortos é relatada praticamente em toda a história da humanidade pelos mais diversos povos nas mais diversas épocas e situações históricas que se tem notícias. Xamãs, oráculos, bruxas, médiuns, sacerdotes etc., sempre houveram personas para satisfazer a “necessidade” do contato com os mortos.

Desde os antigos xamãs nas épocas tribais dançando em volta de fogueiras em transe aos médiuns atuais que atendem até mesmo por chamada de vídeo na internet, a alegada comunicação com os mortos está presente na vida humana de uma forma que é bem claro que há uma quantidade inimaginável de pessoas que acreditam em vida após a morte, assim como também há uma considerável quantidade de pessoas que acreditam que é possível a comunicação certeira ou razoável entre os vivos e os mortos.

Um dos maiores erros de cada pessoa em seu tempo é acreditar que a humanidade chegou ao seu nível máximo de evolução, tanto ética quanto moral e cientificamente. Quer dizer: a ciência que temos como perfeita hoje, deve vir a estar consideravelmente ultrapassada em 50 anos, de forma que as pessoas do futuro olhem para nós hoje e questionem-se como nós, do passado, pudemos viver de forma tão ultrapassada – e a seus olhos, até mesmo estúpida ou tola.

Este ponto - o da demarcação histórica dos fatos - é importante para que possamos compreender que em relação a determinados conceitos e paradigmas (como “bem” e “mal”, “certo” e “errado”, “ignorante” ou “culto” ou até mesmo “são” e “louco”) podem ser apenas aspectos temporais condicionados ao determinismo científico pela evolução científica da humanidade ao seu tempo, mas a humanidade rejeita a consciência disto, pois isso lhe geraria evidente ansiedade pela angústia do incerto pela não certeza.

Assim como na Idade Média certas doenças eram vistas como “coisas do Diabo”, meramente por falta de desenvolvimento científico, coisas que hoje podem ser consideradas “transtornos”, no futuro poderão ser normalizadas considerando a evolução científica da humanidade no futuro. Hoje, o médium que é considerado com transtorno de personalidade esquizotípico, no futuro poderá vir a ser “normalizado” caso a comunicação com os espíritos venha a ser devidamente alcançada e provada.

Assim com a falta de ciência gerava o “endemoniado”, hoje pode gerar o diagnóstico de transtorno. O médium pode facilmente vir a ser diagnosticado com transtorno de personalidade esquizotípico na medida em que alegar ver, ouvir e se comunicar com espíritos de pessoas mortas meramente porque a ciência humana não é capaz (ao menos ainda) de comprovar que a vida após a morte existe e que é possível uma pessoa viva se comunicar, vendo, ouvindo e se comunicando telepaticamente com espíritos de pessoas mortas.

Apesar disso, realmente, não há como deixar de falar que há pessoas que se aproveitam da boa-fé e esperança alheia dizendo-se médiuns para obter proveito pessoal, como as pessoas que se aproveitam dessa fragilidade humana de buscar um messias para obter vantagens, desde financeira até mesmo social e sexualmente, destacando-se que a alegada mediunidade não tem a ver com santidade e uma pessoa pode ser médium e mesmo assim vir a praticar atos sociais reprováveis.

Há pessoas que evidentemente mentem e manipulam outras para se propagar como médiuns, pois sabem que isso chama a atenção e cativa as pessoas e, tais pessoas (os “falsos médiuns”), não se encaixariam no que diz respeito ao transtorno de personalidade esquizotípico, pois estariam apenas simulando ações que não dizem respeito à realidade da comunicação com os espíritos. Aí, não há que se falar no transtorno em tela.

Ao momento, à luz da psicanálise atual, pela evolução humana atual, os médiuns – pessoas que dizem se comunicar com pessoas mortas, seja vendo-as, ouvindo-as ou se comunicando com elas por telepatia – encaixariam perfeitamente no que diz respeito ao transtorno de personalidade esquizotípico, mas, talvez seja meramente uma relação temporal, refém do próprio estado de evolução da humanidade.


A história da humanidade que foi escrita através de pessoas que disseram se comunicar com espíritos é uma história, então, escrita por atos eivados de transtornos de personalidade esquizotípico? Poder-se-ia dizer que Jesus, Moisés e tantos outros fundadores de egrégoras religiosas estariam acometidos de tal transtorno em relação ao que propuseram ao mundo? Será que atos eivados de tal transtorno teriam o poder de criar tanto o cristianismo quanto o judaísmo? Creio que não.

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